FARMACOCINÉTICA e FARMACODINÂMICA DA ARTICAÍNA

 

  1. QUÍMICA DA ARTICAÍNA
  2. A estrutura amida da articaína é similar a de outros anestésicos locais, mas sua estrutura molecular difere pela presença de um anel tiofênico ao invés de um benzênico. Além disto, a presença de um grupo éster a torna única, pois ocorre metabolização por esterases no sangue e nos tecidos.

    A articaína tem caráter básico (pKa = 7,8) e boa lipossolubilidade expressa por um coeficiente de partição de 52. Seu potencial anestésico similar ao da lidocaína e sua baixa toxicidade sistêmica, permitem que seja injetada em concentrações superiores aos seus congêneres. Isto representa uma vantagem no que diz respeito à penetração óssea, minimizando o volume a ser injetado minorando a dor da distensão tecidual.

  3. Farmacocinética

Administração e Concentração Plasmática

A concentração plasmática máxima e a meia-vida de eliminação (t 1/2b ) são importantes para se estimar o risco de intoxicação sistêmica e fornecer recomendações para dosagem única ou múltipla durante o tratamento odontológico.

O tempo(tmax) para se atingir a Cmax (concentração sanguínea máxima) da articaína é de 10 a 15 minutos após uma injeção submucosa de uma solução a 4% 80mg (o equivalente ao conteúdo de um anestube)

A eliminação da articaína é exponencial com uma meia-vida de 20 minutos.

O ácido articaínico, principal metabólito da articaína, possui tmax de 45 minutos.

 

Epinefrina 1:200.000

Sem vasoconstritor

     

Articaína

400m g/L

580m g/L

Ácido Articaínico

2000m g/L

2300m g/L

     

Concentração Plasmática Máxima da articaína e do ácido articaínico obtida após 10 - 15 e 45 minutos, respectivamente

Os resultados acima indicam que a maior parte da articaína que atinge a circulação sistêmica é constituida por seu principal metabólito inativo. Isto indica uma rápida hidrólise por parte das esterases dos tecidos. Por este fato, o risco de intoxicação sistêmica é muito baixo se comparado com outros anestésicos locais, especialmente se doses repetidas são aplicadas. Não existe correlação entre as concentrações plasmáticas de articaína e seu efeito anestésico, que tem a duração de 2 horas quando associada à epinefrina.

A concentração sérica de articaína diminui rapidamente: após 45 minutos chegando a um terço da Cmax.atingida.

Concentração no Sangue Alveolar

Oertel et al (1996) realizaram mensuração da concentração da articaína em sangue alveolar logo após a extração de dentes maxilares. Segundo estes autores, a concentração obtida naquele local foi cem vezes maior que a da circulação sistêmica, após a administração de 2mL de uma solução a 4% com epinefrina 1:100.000 (média 117 mg/mL).

 

Ligação à Proteínas Plasmáticas

Van Oss et al (1989) mostraram que a ligação à proteína plasmáticas da articaína e do ácido articaínico são de 57-73% e 60-91%, respectivamente.

 

Metabolismo e Excreção

Todos os anestésicos locais são metabolizados no fígado pelos microssomas. Como se trata de um processo relativamente lento, as meias-vidas destas substâncias estão entre 1 a 3,9 horas. A articaína é metabolizada, adicionalmente, por esterases inespecíficas desde o momento da injeção. Esta hidrólise é responsável por 90 % da inativação desta substância. O produto formado é inativo como anestésico local e nenhuma toxicidade sistêmica tem sido observada. O grupamento 2-carbometoxi é hidrolisado à 2-carboxi. A articaína é eliminada na urina, em grande parte como ácido articaínico (64,2 ± 14,4%), seguido por um derivado glicuronado do ácido articaínico (13,4± 5,0 %) e como droga inalterada (1,45 ± 0,77 %). O clearence corporal da articaína após administração intraoral é de 235 ± 27 L/h. O clearence renal da articaína é de 1,35 ± 0,83 L/h, enquanto que o do metabólito ácido articaínico é de 7,18 ± 1,81 L/h. O metabólito glicuronídico não está presente no plasma, sugerindo que esta biotransformação ocorre nas células tubulares antes da eliminação. A recuperação da dose total administrada varia entre 50 a 92% por um período superior a 36 horas.

Foi demonstrado in vitro que a metabolização por parte das esterases seguia um processo cinético do tipo Michaelis-Menten, indicando saturação das enzimas frente à uma alta concentração do substrato. Acredita-se que este fato possa contribuir para se explicar o efeito anestésico médio em constraste com a curta meia-vida sistêmica da droga.

 

FARMACODINÂMICA

A adição de vasoconstritor (adrenalina) aumenta a porcentagem de anestesia bem sucedida (90% contra 56% sem epinefrina). Independente da concentração de articaína ou vasoconstritor, o tempo de latência para o aparecimento dos efeitos anestésicos é de 1 a 3 minutos após a injeção. A duração da anestesia com o emprego associado de epinefrina (1:200.000) tem duração de 71 minutos, diminuindo gradativamente quando a concentração decresce (1:400.00 = 63 minutos; 1:900.000 = 58 minutos; sem epinefrina = 29 minutos). A potência da articaína é de 4 a 5 (padrão procaína = 1).

 

TOXICIDADE

A ocorrência de toxicidade com anestésicos locais está associada com a injeção inadivertida num vaso sanguíneo, cuja incidência parece estar ao redor dos 20%. Tal toxicidade se reflete no SNC e no sistema cardiovascular. Os sinais subjetivos iniciais da intoxicação no SNC são tontura, desorientação, excitação e disturbios visuais e auditivos.Sinais objetivos de intoxicação nos seus primeiros estágios são tremores, abalos musculares e tremores dos músculos faciais. Estudos clínicos indicam que a articaína é mais potente que a lidocaína e menos tóxica (toxicidade de 1,5 versus lidocaína de 2).

De modo geral, a articaína é menos tóxica que a lidocaína tanto para o SNC como para o Sistema Cardiovascular.

REGIME DE DOSES (POSOLOGIA)

O sucesso anestésico quando a articaína foi empregado alcançou 90% (utilização de articaína a 4% - 60 a 80mg ~ 1 anestube, adrenalina 1:200.000). Estas anestesias bem sucedidas foram obtidas mais por infiltração que por técnicas regionais, o que poderia ser explicado pelo conhecimento técnico necessário e habilidade do operador. A infiltração de articaína no vestíbulo bucal tem permitido a extração com fórceps sem a necessidade de complementação palatina ou lingual (Malamed, 1986).

Independente do volume usado, o tempo de latência para este anestésico local está situado em 2 minutos. A duração está situada em torno de 50 minutos (com epinefrina 1:200.000) e 60 minutos (epinefrina 1:100.000), segundo Hofer et al (1974).

CONCLUSÃO

A articaína é mais uma opção dentre os diversos anestésicos locais utilizados no nosso país. Seu perfil farmacocinético e farmacodinâmico vai de encontro à nossa meta de proporcionar uma anestesia completa e segura. Sua penetração superior pode encontrar boa aplicabilidade nas mais diversas áreas da Odontologia, onde visamos poupar o paciente de punções repetidas. Infelizmente, o custo deste anestésico local no Brasil é ainda muito elevado ( em maio de 1999, uma caixa com 50 tubetes de vidro tem o preço entre R$ 75 a R$ 80). Contudo a própria empresa importadora tem interesse em produzi-la no Brasil, o que , com certeza, irá tornar seu uso mais difundido entre os profissionais brasileiros.