Câncer
Bucal
Câncer
(neoplasia ou tumor maligno) é uma doença caracterizada pelo
crescimento descontrolado de células anormais. Estas células
apresentam comportamento agressivo e incontrolável, determinando a
formação de tumores. Elas invadem os tecidos e órgãos, podendo
disseminar (metástase) para outras regiões do corpo.
O câncer é a segunda
maior causa de morte nos Estados Unidos, e espera-se que no século 21
ele já seja a principal. Estima-se que cerca 7% da população mundial
seja acometida pelo câncer de boca. O Brasil ocupa o 4º lugar em incidência
no mundo e cerca de 10% dos tumores malígnos do corpo humano em
brasileiros, estão localizados na boca. Verificou-se que nos últimos
30 anos, a incidência do câncer de boca no Brasil tem aumentado.
Muitos desses casos são
diagnosticados numa fase muito tardia, levando o paciente a morte ou a
cirurgias complicadíssimas e mutilações que provocam deformidade,
impedindo o paciente de levar uma vida normal.
No Brasil, o perfil da
mortalidade da população se modificou, e o câncer substituiu, nos
anos 80, as doenças infecciosas, passando a ocupar o segundo lugar
entre as causas de óbitos por doenças. Em 1986 houve, no território
nacional, 550.016 óbitos dessa natureza, dos quais 13,4% tiveram o câncer
como causa primária (FONTE: Estatísticas de Mortalidade - SIM/MS).
Essa mudança verificada no perfil epidemiológico está em parte
associada a transformações ocorridas na estrutura sócio-econômica do
país, caracterizada pelo processo de industrialização e pela urbanização
acelerada associado ao aumento da expectativa de vida da população em
geral. Essa população concentrada nos grande centros urbanos modificou
seus hábitos e, além dos poluentes urbanos a que passou a ser
submetida, intensificou o consumo de produtos alimentícios adicionados
de conservantes, aromatizantes e corantes; passou a fumar mais e se expõe
aos fertilizantes e pesticidas utilizados na agricultura. Esses fatores
a longo prazo, aumentam o risco potencial para o desenvolvimento de
neoplasias malígnas. O carcinoma espinocelular (carcinoma = neoplasia
malígna que tem origem no tecido epitelial), também conhecido como
carcinoma epidermóide, é o mais comum na boca (90 a 95% dos casos).
Ele tem início na pele ou na mucosa.
A sobrevida dos
pacientes com câncer de boca está diretamente relacionada com a extensão
da doença quando o diagnóstico é precoce e o tratamento especializado
é aplicado. As principais causas do câncer de boca são atribuídos às
influências ambientais. Destacamos aqui, aquelas relacionadas aos hábitos
pessoais e a atividade profissional.
Sejam quais forem as
causas do câncer, determinadas for fenômenos químicos, físicos ou
biológicos, o aspecto comum a todos estes fenômenos é uma lesão em nível
do DNA celular.
Constatamos que a incidência
de câncer na população é proporcional a idade das pessoas. Sendo
assim, a partir dos 55 anos de idade, a incidência aumenta de maneira
significativa.
Uma célula normal pode
sofrer alterações no material genético (DNA) dos genes. A este fenômeno
denominamos de mutação genética. As células cujo material genético
foi alterado passam a receber instruções erradas para as suas
atividades. Essas alterações ocorrem em genes especiais, denominados
de protooncogenes, que são inativos em células normais. Quando
ativados, eles transformam-se em oncogenes, responsáveis pela malignização
das células normais.
O processo de carcinogênese,
ou seja, a formação do câncer, em geral, não ocorre de forma rápida,
podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere e dê
origem a um tumor visível. Para que isto ocorra são necessários 3 estágios:
- estágio
de iniciação (1º estágio) : é quando as células sofrem o
efeito dos agentes carcinogênicos que provocam modificações no
genes. Nesta fase, as células encontram-se geneticamente alteradas,
não sendo possível se detectar clinicamente o tumor.
- estágio
de promoção (2º estágio) : as células iniciadas sofrem o efeito
dos agentes cancerígenos classificados como oncopromotores sendo
transformada em célula malígna, de forma lenta e gradual. A
interrupção do contato com agentes promotores, na maioria das
vezes, bloqueia o processo neste estágio.
- estágio
da progressão (3º estágio): caracterizado pela multiplicação
descontrolada e irreversível das células alteradas. Neste estágio
o câncer já está instalado, evoluindo até o surgimento dos
primeiros sinais clínicos da doença.
A exposição da mucosa bucal a agentes cancerígenos resulta,
inicialmente, em lesões inflamatórias inespecíficas que são reversíveis,
caso a agressão seja suspensa. Porém, se os agentes continuam
agredindo a mucosa bucal, eles provocarão reações que podem levar ao
desenvolvimento de alterações celulares chamadas de displasias.
Dependendo da intensidade e do tempo de exposição aos agentes cancerígenos,
as displasias evoluem de leve para moderada, daí para forma grave e,
finalmente para carcinoma in situ.
Nas fases leve e
moderada, as displasias são totalmente reversíveis, isto é,
interrompendo-se a exposição aos agentes cancerígenos e,
simultaneamente, regularizando-se a ingestão de alimentos ricos em
caroteno, ocorrerá a reversão do processo, voltando a mucosa ao seu
estado de normalidade.
Caso haja continuidade
da exposição da mucosa aos fatores de risco, poderá haver o
desenvolvimento para a displasia grave, onde já existem alterações
celulares de maior intensidade, que são irreversíveis, mesmo que haja
a interrupção da exposição aos agentes agressores.
Deve ser salientado que
as displasias chamam muito pouco a atenção do paciente, pois, a não
ser pela sensação de ardência, não apresentam outra sintomatologia.
Portanto,
responsabilidade do reconhecimento das lesões e das alterações que
representam as displasias é, via de regra, do profissional de saúde,
que a cura do paciente pode ser obtida pela motivação, abandonando o
tabagismo, etilismo, removendo as condições agressoras da mucosa
bucal.
As displasias graves,
quando não tratadas e sob a ação dos agentes cancerígenos, podem
evoluir para o carcinoma in situ. Nesta situação, ainda não ocorreu o
rompimento da camada basal do epitélio, as células tumorais ainda não
alcançaram os vasos linfáticos e sanguíneos, e a neoplasia é
considerada inicial. Caso o diagnóstico não seja feito nesta fase, as
células tumorais continuarão o processo de multiplicação, provocando
o rompimento da camada basal do epitélio, introduzindo-se no tecido
conjuntivo, resultando no carcinoma invasivo.
Autor: Dr.
Prof. Ricieri Aparecido Batista Alquati.
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